sábado, 31 de março de 2012

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O FOTÓGRAFO

(Manoel de Barros, 2000)

Dificil fotografar o silêncio
Entretanto tentei. Eu conto:Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Por fim eu enxerguei a nuvem da calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski, seu criador.
Fotografei a nuvem na calça e o poeta.
Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

De Cartas a um Jovem Poeta

Rainer Maria Rilke
Maio 14, 1904, Rome

Amar também é bom:
porque o amor é difícil.
O amor de duas criaturas humanas
talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta,
a maior e última prova,
a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação.
Por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo,
não sabem amar: tem que aprendê-lo.
Com todo o seu ser,
com todas as suas forças concentradas em seu coração solitário,
medroso e palpitante,
devem aprender a amar.
Mas a aprendizagem é sempre uma longa clausura.
Assim, para quem ama,
o amor,
por muito tempo e pela vida afora,
é solidão,
isolamento cada vez mais intenso e profundo.
O amor, antes de tudo,
não é o que se chama entregar-se,
confundir-se, unir-se a outra pessoa.
Que sentido teria, com efeito,
a união com algo não esclarecido,
inacabado, dependente?
O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer,
tornar-se algo em si mesmo,
tornar-se um mundo para si,
por causa de um outro ser;
é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz,
uma escolha e um chamado para longe.
Do amor que lhes é dado,
os jovens deveriam servir-se unicamente como de um convite para trabalhar em si mesmos.
A fusão com outro, a entrega de si,
toda a espécie de comunhão não são para eles;
são algo de acabado para o qual,
talvez, mal chegue atualmente a vida humana.
Creio que aquele amor persiste tão forte e poderoso
em sua memória justamente por ter sido sua primeira solidão
profunda e o primeiro trabalho interior com que moldou a sua vida.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O Valor das Coisas...

O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

Fernando Sabino